Campo de oração e trabalho para jovens
Entre os dias 1 e 6 de setembro, um grupo de 23 jovens voluntários ousou arriscar no Senhor e inscreveu-se num campo de oração e trabalho no Mosteiro de Nossa Senhora do Rosário.
Foi uma semana intensa e serena, vivida em equilíbrio entre o descanso, a oração e o trabalho, sempre acompanhados pelas irmãs e pelo padre Paulo. Redescobrimos, na simplicidade dos dias, que “há um tempo e um momento para todas as coisas debaixo do céu”. Assim foi o nosso tempo de retiro, que no silêncio pudéssemos Escutar a voz do Pai. Foi o tempo de aprender a acolher a Palavra que nos guiou durante toda a semana: “Shemá Israel” — Escuta, Israel.
Durante esses dias, tivemos a graça de participar nos ofícios das irmãs, de colaborar no artesanato, no cuidado do mosteiro e na preparação das refeições. Mas também nos dedicámos às tarefas simples e práticas: limpámos valetas, regámos pinheiros e, sobretudo, ajudámos a construir o cantinho de Nossa Senhora.
No silêncio, o Senhor foi falando aos corações. Cada gesto, cada oração e cada momento partilhado tornou-se testemunho vivo da Sua presença. É isso que estes jovens, em cujos rostos resplandece o brilho de Cristo ressuscitado, querem hoje proclamar: que vale a pena escutar, confiar e seguir a voz do Pai.
Ecos / Testemunhos
Foi tempo de escutar, de me render, de perceber que o Senhor me quer dar uma vida extraordinária.
Nesta semana reconheci um semeador que esbanja tudo para me ver crescer, para que eu possa dar fruto. Um Deus que é oleiro, que usa o cimento para me falar e ao moldar, molda o meu coração para que seja cada vez mais parecido com o Seu.
Fizemos a experiência de uma refeição fraterna dentro do claustro, um momento em que senti tocar um pedacinho do céu. De comunhão num Deus que é aumento e que tem sede de mim, mas que quer reunir todo o Seu rebanho.
Este Bom Pastor que me conduz, e que só me pede que o acolha, que me deixe guiar, que escute e que permita que Ele faça em mim.
Nas irmãs que nos acolheram, vejo Maria, Nossa Senhora e mãe, que como elas cuida e conduz até Jesus. Em cada pequeno gesto, em cada olhar, em cada palavra, em cada silêncio, em cada entrada nas Suas celas, entram no coração de Deus, e intercedem por nós, por cada ovelha, para que nenhuma se perca.
Em cada prostração, suplicam ao nosso Bom Deus, em cada vela que fazem, em cada cântico. Relembram-me que esperamos algo grande – o Senhor que vem.
Um Senhor que se faz pequenino, que me quer salvar nas coisas pequeninas, mesmo a contar postais ou a pôr flores na mesa. Um Senhor que se alegra com a minha pequenez.
Sempre que venho cá, desde a capela, às orações, às irmãs, ao trabalho, ao silêncio, à alegria e à paz. Aqui, no mosteiro, descobri que o meu Jesus é a paz, que é tudo e que me salva em cada instante, aqui toco a eternidade.
Esta semana mostrou-me a riqueza do silêncio e da reclusão, que o Senhor fala através do alimento, das vassouras e de cada um daqueles que viveu este tempo comigo.
Revelou-me a alegria que é poder ser uma ovelha bem amada do rebanho cujo pastor é o Senhor. A alegria que é render-me à Sua vontade, por saber que Ele deseja para mim uma vida extraordinária, em abundância, alicerçada em rocha firme.
Chamar a esta semana, um campo de trabalho e oração é reduzi-la apenas à superfície. Foi também um tempo de encontro pessoal e transformador com Nosso Senhor, de crescimento e aprendizagem. E agora que chega ao fim apenas peço, com ajuda de Nossa Senhora, que seja capaz de continuar a colocar em prática tudo o que bebi desta fonte.
Aqui vejo a primeira cura milagrosa deste campo de oração e trabalho. Chegar ao final do dia com o corpo exausto, mas o espírito em paz, e poder dormir profundamente. Este ora et labora é uma verdadeira cura para a alma e para o corpo.
Também o tema do campo se revelou uma cura profunda: “Shemá”! Pensei “Vão dar-me bons momentos para ouvir Deus. Que bom, estou pronto para ouvir.” Mas não estava à espera do fogo que me ardia no coração ao escutar.
Reconheço agora que ninguém pode ouvir a voz do Deus verdadeiro e sair indiferente. Eu escutei Deus. Falou-me de amor, falou-me de magnanimidade – a grandiosidade das coisas feitas em Deus – e falou-me de generosidade. Mais que tudo, falou-me de paz. Deus é bom, mesmo bom, e não é senão bom.
Por último, não há palavras suficientes para descrever como me senti profundamente amado pelas irmãs. Cada pequeno gesto com um carinho infinito e um sorriso de trazer lágrimas aos olhos. Podiam só pôr o bolo num tabuleiro, mas iam apanhar flores para enfeitar. Que grande exemplo levo deste amor sem palavras.
Viva Jesus, Senhor da Vida e da Esperança.
Nesta semana não me foi pedido que falasse com Jesus, nem sequer que o procurasse entender, nem mesmo que me fizesse à Sua imagem. Apenas que O pudesse escutar! Escutar esta voz de amor, do Bom Pastor.
Agora que esta semana terminou resta a pergunta: será que verdadeiramente O escutei?
Há medida que os dias iam passando e que meditávamos sobre diferentes passagens, na minha mente e no meu coração iam surgindo dúvidas. Será que tenho medo dos pedidos do Senhor? Será que me sinto amado por Ele e pelos outros? Será que me sei amado? Será que sou terra boa e fecunda? Será que tenho a minha casa desarrumada e não consigo parar para ouvir a voz do Senhor? Onde fundei a minha casa? Escutas-te a voz do Senhor, Diogo
Escuta Israel. Ele é o teu Deus. Ele é o teu único Senhor. Esta foi a oração que me acompanhou durante o campo.
No campo Te escutei, Senhor. Através dos trabalhos e da oração, na simplicidade de gestos e palavras, abriste o meu coração à Tua vontade. Sinto o Teu amor, aquele que vejo nos meus irmãos e deixo que ele permaneça em mim.
Não sei se pela brancura das paredes, o desafogo da paisagem, o cortante silêncio, ou a alegria inundante… sei Senhor que estiveste aqui, sei Senhor que te levo comigo todos os dias, com uma vontade incessante de Te escutar.
Obrigado, Jesus